Quando os superiores da CIA se recusam a agir após a morte de sua esposa em um ataque terrorista em Londres, um decodificador decide fazer justiça com as próprias mãos.
Crítica: Filmes de vingança têm um lugar cativo no coração dos fãs de ação — e com razão. Obras como John Wick, Kill Bill ou O Justiceiro provaram que uma motivação pessoal forte pode impulsionar narrativas intensas e empolgantes. Com O Amador (The Amateur), temos mais um exemplo de como essa fórmula pode funcionar, principalmente quando se aposta em um protagonista inusitado: Rami Malek, vencedor do Oscar, assume com competência o papel principal e traz algo novo ao gênero.
A trama gira em torno de Charles Heller (Malek), um especialista em decodificação da CIA que perde a esposa, Sarah (Rachel Brosnahan), em um atentado em Londres. Dominado pela dor e pelo desejo de justiça, Heller procura agir, mas encontra resistência dentro da própria agência. Sem apoio institucional, ele decide seguir por conta própria, revelando ao espectador uma teia de corrupção que pode ter ligação direta com a tragédia. A morte de Sarah foi realmente aleatória? Ou Heller estava se aproximando demais de algo que deveria permanecer escondido?
O que torna o filme ainda mais interessante é como Heller aplica suas habilidades analíticas no mundo real, usando inteligência e estratégia para alcançar seus objetivos — bem diferente do herói musculoso típico dos filmes de ação. E Malek se encaixa perfeitamente nesse perfil. Sua atuação transmite de forma genuína o luto e a determinação do personagem. Em nenhum momento o filme tenta transformá-lo em um super-herói: Heller é apenas um homem preparado, inteligente, que analisa possibilidades e riscos antes de agir.
Rachel Brosnahan, mesmo com pouco tempo de tela, deixa uma impressão marcante como Sarah. Sua presença é tão envolvente que o público entende de imediato a dor profunda de Heller. A química entre os dois personagens torna ainda mais crível a motivação do protagonista.
Laurence Fishburne traz toda sua experiência para o papel de Henderson, um mentor ambíguo que adiciona tensão à perseguição entre gato e rato. Sua relação com Heller tem camadas e vai além do típico antagonismo. Já Jon Bernthal aparece brevemente como “O Urso”, uma figura que, apesar de limitada em tempo de tela, representa uma esperança: nem todos dentro da CIA estão corrompidos. Holt McCallany também faz parte do elenco e, como já virou quase tradição, interpreta mais um personagem com intenções duvidosas.
Um ponto que merece atenção é a forma como o roteiro trata os personagens secundários. Em alguns momentos, há a sensação de que vidas inocentes são usadas apenas para fazer a trama avançar, o que, ironicamente, coloca em xeque a própria moral de Heller. Seria interessante ver essa ambiguidade mais explorada em uma possível continuação.
As cenas de ação de O Amador são realistas e bem coreografadas, sempre respeitando a proposta de que Heller não é um combatente nato. Ele resolve situações com astúcia, criatividade e planejamento. Mesmo quando parece que o filme pode seguir por um caminho mais convencional, ele retorna ao estilo cerebral do protagonista, mantendo a coerência e surpreendendo o espectador.
Mesmo com alguns spoilers nos trailers — incluindo uma morte impactante —, o filme consegue manter o suspense e entregar reviravoltas interessantes. Ainda que se baseie em estruturas clássicas do cinema de ação, há frescor suficiente para diferenciar O Amador de outros títulos recentes.
Assistir ao filme foi uma experiência empolgante, com ecos do impacto que A Identidade Bourne causou em seu lançamento. O gênero precisava de um herói fora dos padrões, e Rami Malek cumpre esse papel com excelência. O personagem do “homem por trás do computador”, muitas vezes relegado ao segundo plano, finalmente ganha protagonismo. A história é envolvente, deixa espaço para continuações e desperta o desejo de ver mais. Que venha O Profissional!