“Fountain of Youth”: O ápice do entretenimento para quem não está prestando atenção

Talvez você já tenha ouvido falar em “entretenimento de segunda tela”. Esse é um termo inventado pelas plataformas de streaming para descrever um tipo de conteúdo pensado para espectadores que, na verdade, não estão totalmente focados no que está na tela principal. Em muitos casos, o público está com o celular na mão, enquanto a TV, o tablet ou outro dispositivo reproduz o que seria o “conteúdo principal”. Às vezes, eles assistem e ouvem. Outras vezes, apenas escutam de longe, enquanto fazem outra coisa. Em alguns momentos, se envolvem tanto com algo no celular (ou com algo acontecendo na casa) que perdem completamente o fio da meada do que estavam “assistindo”. E então se perguntam: “O que está acontecendo mesmo?” Se estiverem sozinhos, talvez voltem alguns minutos para entender. Ou simplesmente deixem passar. Se estiverem acompanhados, podem perguntar: “Ela é a princesa mesmo?”, “Aquele é o pai dela?”, “Eles ainda estão no Marrocos?”, ou “É o Dermot Mulroney?” — e, com sorte, o outro não estará tão distraído jogando Candy Crush para responder.

É nesse contexto que surge Fountain of Youth.

Se no futuro os estudiosos da mídia quiserem um exemplo perfeito de uma obra que domina todas as técnicas desenvolvidas para esse novo tipo de consumo — o tal do entretenimento de segunda tela, que parece cinema ou TV, mas que na prática não exige atenção de ninguém — Fountain of Youth será provavelmente o caso mais citado. É o Cidadão Kane do entretenimento distraído. Cada cena parece ter sido feita para ser ignorada.

John Krasinski interpreta Luke Purdue, um aventureiro em busca da fonte da juventude — que talvez nem seja uma fonte de verdade. Natalie Portman é Charlotte Purdue, irmã mais nova de Luke. Ela já esteve no mundo das aventuras, mas o abandonou para levar uma vida normal e hoje trabalha como curadora em uma galeria de arte. Luke rouba uma das obras — não para vender, mas para… Bem, melhor você mesmo assistir enquanto rola o feed do Instagram. Porque é assim que o filme parece querer ser assistido.

A obra não consegue passar um minuto sem que algum personagem explique o que está acontecendo na tela. Tudo é mastigado: pontos da trama, relações entre personagens, nomes, histórias de vida, currículos. Tudo é dito em voz alta. É o tipo de diálogo que David Mamet já descreveu como: “Estamos indo para o fim da escada que estamos tentando alcançar”.

Em uma das primeiras cenas, Luke aparece no museu e pergunta: “Charlotte, você acha mesmo que deveria estar fazendo isso?”, segundos antes de arrancar um quadro da parede, retirar a tela e levá-la embora para sua missão, que ainda não foi explicada. “Nós três vivemos grandes aventuras”, ele diz. Charlotte responde: “Sim, mas isso foi há dez anos. Papai morreu, eu estava criando um bebê, tinha um trabalho… precisei crescer”. Será que precisávamos saber de tudo isso? Em um filme de ação, onde os personagens muitas vezes nem têm sobrenome ou falam nossa língua, isso importa? E mesmo que importe, será que essa era a melhor maneira de passar essa informação — quase como um discurso de entrevista de emprego?

E tudo segue esse padrão. Depois do reencontro no museu, há uma típica perseguição de carro, que termina com os dois chegando a um caminhão que também funciona como laboratório, comandado pelos colegas de Luke. Charlotte recusa o convite para embarcar na aventura e ele promete levá-la de volta ao museu. Na cena seguinte, ela está andando pela galeria com um investigador, e ele diz: “Desculpe pela intromissão, mas você é a curadora deste museu e está desaparecida há algumas horas.” O detetive, interpretado por Arian Moayed (de Succession), só se apresenta depois que Charlotte pergunta: “E você é?”

Tudo no roteiro é dito como se o público estivesse prestando atenção pela metade. E, se pensarmos bem, é provável que esteja mesmo.